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Entrevista a Nuno Nepomuceno

*Entrevista em parceria com a Cultura Editora*


O Nuno Nepomuceno nasceu nas Caldas da Rainha, em 1978 e é um escritor português, formado em Matemática pela Universidade do Algarve. Em 2012 venceu a primeira edição do Prémio Literário Note! com a obra “O Espião Português”. O ano de 2016 ficou marcado pelo lançamento do seu primeiro thriller psicológico, “A Célula Adormecida”. Já em 2020, alcançou o primeiro lugar a nível nacional de venda de livros com a obra “A Morte do Papa”.


O Nuno é formado em Matemática uma área que junta letras e números, porém de uma forma mais técnica. Como é que surge o gosto pela escrita?

Aconteceu durante a adolescência. Desde muito pequeno que fui habituado a ler. A minha mãe levava-me à biblioteca itinerante que passava quinzenalmente pela aldeia na qual vivíamos. Ela escolhia uma livro para ela e o bibliotecário entregava-me três, o que me deixava frustrado, pois achava pouco.

À medida que fui crescendo, o gosto pela leitura desenvolveu-se, a minha família mudou-se para uma cidade e eu tive a oportunidade de ir sozinho a uma biblioteca, tornando-me num leitor voraz. Houve um momento durante a adolescência, que não sei precisar exatamente, mas em que comecei a sentir curiosidade em saber como seria estar do outro lado do livro, ou seja, ter o poder de escrever eu a história e assim comunicar com o leitor. A ideia foi colocada de parte até conseguir estabilizar noutra profissão, mas manteve-se dentro de mim, à espera da altura certa, que aconteceu em 2012. Não considero que minha formação académica seja uma condicionante. Todos nós, portugueses, devemos saber escrever corretamente na nossa língua.

Sendo a sua área de formação completamente distinta, o Nuno sempre teve o sonho de ser escritor ou foi um desejo que nasceu após a sua entrada no mundo da literatura?

Era uma ambição que tinha desde cedo, embora rapidamente tenha percebido que seria insensato se tentasse logo que fosse a minha atividade principal. Tive sempre a impressão que a maior parte dos escritores portugueses não dispunham de receitas suficientes para que pudessem viver exclusivamente do que escrevem; daí ter procurado primeiro ter outra carreira que me proporcionasse estabilidade e só depois, já com mais de 30 anos, ter tentado entrar no mercado literário.


Após a publicação de vários livros, é em 2020 que atinge o primeiro lugar a nível nacional de vendas de livros com “A Morte do Papa”. Qual é a sensação ao perceber que algo escrito por si deixou milhares de leitores rendidos?

Considero que tem sido uma situação fácil de encarar, uma vez que a popularidade dos meus livros tem aumentado de modo gradual. A Morte do Papa foi o meu primeiro título com um sucesso praticamente imediato, mas já foi o meu 7º livro em papel, ao fim de 7 anos de carreira.

Nas minha opinião, a escrita de best-sellers traz-nos apenas dois sentimentos: o reconhecimento geral pelo trabalho e empenho que desenvolvemos, o que sabe sempre bem, e a responsabilidade de não dececionar os leitores nos livros vindouros.


Camões recorria às ninfas do Tejo em busca de inspiração. Qual é a fonte para a sua? Como é que surgem as ideias?

Trata-se de algo que tem mudado com o tempo, mas que normalmente ainda surge de modo espontâneo. A minha memória é bastante visual; sinto facilidade em ver imagens na minha cabeça, quase como se fossem representações dos capítulos do livro. Por isso, no início, as ideias vinham sobretudo de fotografias ou outro tipo de arte. Por exemplo, A Espia do Oriente, o segundo volume da trilogia Freelancer foi escrito tendo em mente uma fotografia que vira na capa de uma revista de viagens — uma ponte imersa em nevoeiro, onde quis colocar o protagonista num encontro com um traidor. Já Pecados Santos assentou numa música, que acho que define bem o ambiente negro do livro.

Atualmente, muitas da ideias surgem no decurso da pesquisa e durante a visita aos locais onde a ação irá decorrer, onde pequenos pormenores são muitas vezes suficientes para me inspirar. O resto, acaba por surgir no momento, enquanto escrevo o livro. Não faço um plano para o enredo, mas apenas defino pontos de passagem, o que me proporciona muita liberdade e proporciona um livro mais criativo, e como tal, uma melhor leitura a quem o comprar.

O livro é maioritariamente fruto do imaginário do escritor, porém há temas como os que o Nuno aborda que requerem alguma investigação. De que forma é que faz as pesquisas para as suas obras?

Ultimamente, tenho optado por fazer uma visita aos locais onde a ação do livro irá decorrer. Toda a série Afonso Catalão foi escrita com essa premissa. Antes de começar O Cardeal, visitei Cambridge e foi depois de lá estar e de ter conhecido a Passagem da Casa do Senado que achei que aquela ruela estreita, nas imediações do King College, era perfeita para alguns dos capítulos mais importantes do livro.

Depois, esta pesquisa é consubstanciada em casa, através de investigação, normalmente com recurso a artigos de imprensa e livros. Por exemplo, para escrever A Última Ceia, li vários livros documentais sobre roubos de arte.

O mercado editorial em Portugal está a passar por uma grande crise, em que vemos várias editoras a apostar em escritores já conhecidos como forma de recuperar o investimento. Em algum momento após a conclusão dos seus manuscritos sentiu dificuldades no processo de publicação?

Sim, após o primeiro livro. A editora que o publicou inicialmente não quis continuar a trilogia e eu tive de recomeçar tudo, voltando a submeter originais às editoras, um processo que durou quase dois anos. A partir daí, as coisas tornaram-se mais fáceis.

O ano de 2021 começou da melhor forma com o lançamento do seu novo livro, “O Cardeal”. Já tem projetos futuros em mente? Poderemos contar com mais aventuras do Afonso Catalão?

Sim, atualmente estou a trabalhar na reedição de O Espião Português, o meu primeiro livro, que a Cultura Editora prevê publicar até ao Verão. Quando terminar, irei passar imediatamente para o 6º livro da série Afonso Catalão, que deverá chegar às livrarias no início de 2022. Pelo caminho, ainda irei produzir mais uma temporada de O Assassino, o podcast que apresentei este ano inspirado em O Cardeal, seguindo-se a reedição dos restantes tomos da trilogia Freelancer, também em 2022.

Os leitores portugueses por vezes sentem receio em apostar em novos escritores. Se tivesse de caracterizar os seus livros numa só palavra para lhes suscitar a curiosidade, qual seria?

Bons. Não considero que os meus livros vivam de reviravoltas e descrições chocantes, apesar de alguns as conterem. Preocupo-me mais com a qualidade geral das histórias que crio. Prefiro ser conhecido pela qualidade dos meus livros e pela relação de confiança que estabeleço com os leitores, do que pelo sucesso comercial que possa vir a ter.

Vários leitores consideram-no o mestre do thriller português. Sente-se como sendo o nosso “Dan Brown”?

Não. Sou leitor do Dan Brown e conheço a sua obra bastante bem, mas acho que há diferenças significativas entre nós. A série Afonso Catalão é composta por thrillers psicológicos, enquanto os da série Robert Landon, bem como os dois títulos anteriores, são thrillers de ação. Pensemos, por exemplo, em Pecados Santos, ou até mesmo em O Cardeal. Os enredos, que assentam num homicídio, são muito diferentes dos dos livros de Dan Brown.


Enquanto leitores é-nos fácil enumerar títulos que nos marcaram e que consideramos os nossos favoritos. Enquanto escritor qual é dos livros que já escreveu o seu favorito?

A Última Ceia. Considero-o o livro mais diferente de todos os que integram a série Afonso Catalão e também aquele cuja redação decorreu de modo mais espontâneo e orgânico.


Muito obrigado,

Nuno. J


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